sábado, 13 de maio de 2017

"Não tem um único empresário que pode dizer que me pagou propina", diz Dilma durante evento do PT

"Não tem um único empresário que pode dizer que me pagou propina", diz Dilma durante evento do PT Lauro Alves/Agencia RBS

Foi sob os gritos de "Dilma guerreira, mulher brasileira" que ex-presidente Dilma Rousseff subiu ao palanque da Câmara dos Vereadores na noite desta sexta-feira, em Porto Alegre, para participar de um evento do PT que marcou o que chamaram de "um ano do golpe". Sorridente e aparentando tranquilidade, a petista falou pela primeira vez depois da divulgação das delações premiadas dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura, que a acusaram de ter recomendado conta em paraíso fiscal e criado e-mail em conjunto para avisar alvos sobre ações da Lava-Jato.
Para um público de cerca de 250 pessoas, que ocupou pouco mais da metade do plenário, a ex-presidente falou por quase uma hora sobre as medidas tomadas pelo presidente Michel Temer ao longo deste primeiro ano de governo, reavaliou os motivos do impeachment e, somente no final do discurso, mencionou rapidamente e em tom jocoso as delações dos marqueteiros e a tentativa da Lava-Jato de incriminá-la.
— Podem esperar que eles vão tentar nos criminalizar, todos do PT e a mim também. E comigo tem uma característica interessantísima. É assim: "Ela sabia". Para eu provar que não sabia, é a coisa mais difícil, é a prova negativa. Como eu provo que não sei? Só quem sabe, sabe — disse, arrancando risos da plateia.

A ex-presidente seguiu o discurso afirmando que o "golpe irá continuar" nos próximos meses, e de forma mais repressiva contra o Partido dos Trabalhadores.
— Terão outras tentativas. Como não me apropriei de um único tostão, não tenho conta, não tem um único empresário que pode dizer que me pagou propina (...). Eu não me atemorizo. E isso não é balela, é porque eu resisto, tenho muita capacidade de resistência, e isso que me incomodam muito — afirmou.
Sobre o depoimento de Luiz Inácio Lula da Silva prestado ao juiz Sérgio Moro na última quarta-feira, Dilma afirmou que foi "uma vilania" o que fizeram com o ex-presidente ao questionarem sobre as ações de Marisa Letícia, que faleceu em fevereiro deste ano. Ainda sobre Lula, Dilma defendeu o petista ao destacar as recentes pesquisas sobre as próximas eleições:
— É estarrecedor que o Lula, sob o mais violento cerco, mantenha o primeiro lugar nas pesquisas. Isso acontece porque o povo não engoliu o processo de desmoralização do Lula. Porque o povo brasileiro não é bobo.
Durante a maior parte do discurso, a ex-presidente reavaliou o processo de impeachment que sofreu no último ano e afirmou que os motivos para sua saída do governo só ficaram claras agora:
— Quando olhamos para o passado, percebemos que estávamos sob um cerco violento, e ainda não se sabia as razões do golpe. (...) Pedalada fiscal é colocar o pobre no orçamento, e hoje temos isso claro. Tiraram os pobres do orçamento — disse.
Dilma apontou que, hoje, "a mídia é o grande partido do grupo conservador e neoliberal" que governa o país e destacou:
— Há também a presença de representantes golpistas e corruptos que assumiram o Planalto, mas eles não são a força hegemônica.
A ex-presidente fez, ainda, duras críticas aos projetos de reforma trabalhista e previdenciária propostos por Temer:
— O que estão propondo não é uma reforma, é uma mudança de modelo. Querem mudar o modelo também na área social. É um retrocesso — disse a ex-presidente, que finalizou o discurso reforçando a necessidade de mobilizar a população para resistir.
Durante o evento, além do discurso de Dilma, os candidatos à presidência nacional do partido, senadores Gleisi Hoffmann (PR) e Lindbergh Farias (RJ), falaram para o público sobre a situação atual do PT. Lindbergh foi enfático ao mencionar que o Brasil vive um "momento de guerra", e que são necessárias mobilizações para reverter a situação atual do país:
— Estamos vivendo um momento de polarização. Temos de ter o apoio cada vez maior das ruas. O PT vai ter de mobilizar o povo, estou convencido que estamos em guerra.
Gleisi, que classificou o impeachment de Dilma como um "golpe fruto da misoginia e do machismo", também ressaltou a necessidade de mobilizar a população.
— Vamos enfrentar esse governo nas ruas. Não podemos ter um Estado refém das classes dominantes. O povo está nos dando mais uma chance com as pesquisas que mostram o Lula na preferência nacional — concluiu.
Ao término do evento, Dilma foi aplaudida de pé pelos participantes, que retomaram os cantos Dilma guerreira e Volta Dilma, Fora Temer¿ enquanto a ex-presidente deixava o recinto. 

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