O ex-governador Anthony Garotinho (PR) não aparece na campanha para a Prefeitura do Rio de Janeiro do senador Marcelo Crivella (PRB) --cujo vice é do partido de Garotinho-, mas a aliança entre os dois tem sido alvo de frequentes ataques de adversários. As menções ao ex-deputado federal como nome certo no eventual governo de Crivella levaram o candidato a negar diversas vezes que tenha feito o convite. Em entrevista ao UOL, o ex-governador declarou que não aceitaria um cargo na prefeitura e que planeja "dar uma paradinha na política" em 2017, mas fez questão de defender a própria imagem.
Candidato à Presidência da República em 2002, quando recebeu mais de 15 milhões de votos, quatro anos depois de ser eleito governador do Rio, ele concentrou suas críticas no PMDB, que ficou de fora do segundo turno na capital fluminense este ano.
"Eu acho que eles [adversários de Crivella] estão dando um tiro n'água na medida em que eles tentam associar o meu nome ao Crivella, achando que minha rejeição é grande. Porque minha rejeição já foi grande no Rio, mas, pelos últimos números que eu tenho, está na casa dos 20%, 22%. O PMDB roubou tanto que roubou até minha rejeição", declarou, entre risos, citando o desgaste de nomes da legenda como o ex-governador Sérgio Cabral e o governador
licenciado Luiz Fernando Pezão, que venceu a disputa estadual em 2014.
A reportagem procurou o diretório estadual do partido para que seus representantes pudessem responder as declarações de Garotinho. Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, o deputado estadual Jorge Picciani, presidente na legenda no Estado e da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), disse não querer comentá-las.
"Revés eleitoral inesperado"
Na eleição do ano retrasado, a última disputada por Garotinho, seu índice de rejeição girava em torno de 40%. Sua popularidade começou a cair desde que comandou a Secretaria de Segurança Pública na gestão de Rosinha como governadora do Rio, entre 2003 e 2004.
Desde o ano passado à frente da secretaria municipal de governo na Prefeitura de Campos dos Goytacazes, ele disse acreditar que as eleições de 2016 vão marcar o começo do "declínio da era do PMDB no Estado". "Eu fui o primeiro, há quase dez anos, a levantar a voz contra esse grupo, que é extremamente patrimonialista e fez uma política baseada em enriquecimento pessoal", disse
Garotinho, que foi filiado ao PMDB entre 2003 e 2009, quando migrou para o PR.
Nesta eleição, no entanto, o grupo de Garotinho também sofreu uma derrota em Campos, seu principal reduto, município no norte do Estado governado desde 2009 por sua mulher, Rosinha Garotinho (PR). O próprio ex-governador foi eleito prefeito da cidade duas vezes, em 1989 e 1996. O candidato de Garotinho, Dr.
Chicão (PR), foi derrotado por Rafael Diniz (PPS), que venceu no primeiro turno.
Afastado da campanha no Rio, ele disse estar ocupado em Campos. "Tivemos um revés eleitoral inesperado aqui em Campos, perdemos a prefeitura. Estou cuidando aqui para ajudar a Rosinha na transição. Não estou envolvido em campanha nenhuma", disse Garotinho.
Em 2002, o casal Garotinho comemora a eleição de Rosinha para o governo do Estado
Segundo Garotinho, o ano que vem vai marcar uma pausa na sua trajetória na política. Radialista, disse ter recebido um convite para dirigir e reformular a programação de uma "grande emissora de rádio" na capital --a qual não quis citar o nome.
"Queriam que eu fosse agora em novembro, mas o compromisso que eu assumi com a Rosinha foi de terminar o governo com ela", disse.
Aliança
A presença do partido de Garotinho na coligação de Crivella (PRB/PR/PTN) levou à escolha do engenheiro de transportes Fernando Mac Dowell como seu vice. O cacique do PR nega que tenha feito a indicação pessoalmente. Na semana passada, uma notícia que informava que o ex-governador havia definido o vice da chapa foi retirada do site do PRB, reaparecendo dias depois.
Em 2014, Garotinho apoiou Crivella no segundo turno da disputa ao governo do Estado
"Havia três nomes dentro do partido para a chapa do Crivella: Mac Dowell, Aloizio Gama, ex-presidente do diretório municipal do partido no Rio, e Porfírio, um nome indicado pela direção nacional do PR. Eles foram apresentados ao Crivella e ele optou pelo Mac Dowell. Não houve indicação, houve uma aliança", afirmou Garotinho.
"Vice é uma coisa muito pessoal, né? Ele queria um nome técnico, e o Mac Dowell é um especialista em transporte, em mobilidade urbana, que é um tema muito atual. Foi uma escolha dele", acrescentou.
Filha do ex-governador, a deputada federal Clarissa Garotinho (PR-RJ) chegou a cogitar se lançar candidata à prefeitura da capital fluminense, mas recuou e decidiu apoiar o senador do PRB. "Nós decidimos que, para fortalecer o campo popular no Rio de Janeiro, era importante não lançar duas candidaturas", explicou seu pai.
Derrotado no primeiro turno, Indio da Costa (PSD) formalizou nesta quarta-feira (12) seu apoio a Crivella, com a condição de que Garotinho não participasse da campanha e de um eventual governo do senador, que assumiu este compromisso.
Em seu blog, no entanto, não faltam análises sobre a disputa eleitoral no Rio, na qual Crivella enfrenta o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). Sobre o primeiro debate no segundo turno, realizado no último dia 7 pela Band, afirmou que o tom morno do evento foi bom para seu aliado. "O candidato que está na frente tem que administrar a vantagem. Quando o debate é morno, é bom para quem está na frente", comentou ao UOL.
Pesquisa Ibope divulgada nesta segunda (10) apontou que o candidato do PRB tem 51% das intenções de voto contra 25% de Freixo. Segundo o instituto, 21% dos entrevistados declararam que vão votar em branco ou nulo. Outros 3% afirmaram não saber em quem votar.
Questionado sobre o desempenho dos dois candidatos na campanha, falou de si mesmo. "Meu estilo é diferente dos dois, vocês me conhecem muito bem. Cada candidato adota um estilo. Eu tenho um estilo meio frontal."
Em outra análise, disse que o início da propaganda eleitoral no segundo turno esquentaria a disputa. "No primeiro turno, Crivella tinha um minuto e 11 segundos, e Freixo 11 segundos. Agora, cada um terá dez minutos por dia, além de 35 [minutos de] inserções espalhadas pela programação. É uma arma que, se for bem utilizada, pode fazer a diferença."
Nesta quarta (12), uma inserção com imagens de Garotinho e Crivella juntos e reproduções de reportagens sobre a condenação do ex-governador por formação de quadrilha começou a ser veiculada na televisão pela campanha de Freixo. "Garotinho é o principal aliado de Crivella. Até indicou o vice dele. Você vai deixar o Rio nessas mãos?", questiona uma narradora. Em seu programa, o candidato do PRB voltou a negar a participação de Garotinho no seu governo caso seja eleito e disse que seu secretariado seria formado apenas por pessoas com "ficha limpa".
Lembrando o próprio desempenho em 2014, Garotinho fez um alerta que pode servir a Crivella. "Não existe eleição ganha nenhuma, não existe, não existe.
Nenhuma eleição é ganha de véspera", declarou.
No dia da eleição para o Governo do Estado, há dois anos, a pesquisa de boca de urna do Ibope no primeiro turno apontava uma vantagem de dez pontos percentuais de Garotinho sobre Crivella. Naquele pleito, o candidato do PRB o superou por 0,53% dos votos válidos e passou para o segundo turno. "Quando abriram as urnas, eu fiquei fora por 42 mil votos", lembrou. No segundo turno, Garotinho apoiou Crivella.
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