Excesso mostra realidade preocupante: a falta de preparo das escolas para lidar com problema
Para se concentrar nos estudos, assistir a aulas, fazer provas ou até mesmo para se divertir na balada. A dificuldade em lidar com todas essas situações tem levado crianças e adolescentes a usar um artifício comum, mas arriscado: a medicalização à base de metilfenidato – substância que age diretamente no sistema nervoso central, mais conhecida pelo nome comercial Ritalina. O abuso, associado ao crescimento absurdo do consumo da droga no país, também já preocupa, e muito, educadores.
O excesso da medicação, segundo Geraldo Almeida, que é professor, pedagogo, psicanalista e psicomotricista, escancara duas realidades preocupantes no universo estudantil: a falta de preparo das escolas para lidar com alunos de perfis que não se enquadram no modelo tradicional de aprendizagem e, como consequência, a medicalização do ensino. Esses impactos serão debatidos, a partir de hoje, por ele e mais de 30 especialistas durante um evento educacional na capital.
Para o professor, o excesso da medicação começa com o diagnóstico precipitado do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que leva os alunos a serem submetidos a tratamentos desnecessários. Porém, as falhas também acontecem em outras esferas.
“A primeira está na família, que credita à escola o papel da formação. Em segundo, a escola, que deveria adequar seu modelo pedagógico, mas, por comodidade ou desconhecimento, induz os pais ao tratamento. Em terceiro lugar, o ato médico, e, por último, falta de controle do governo. E assim está criada a armadilha”, critica.
Com base nessa observação, Almeida estima que pelo menos metade das crianças e adolescentes em idade escolar tenha consumido a Ritalina frequentemente ou esporadicamente. “A maioria dos pais têm esse consumo institucionalizado, mas todo medicamento tem efeito colateral e, nesse caso, eles são mais danosos. Além disso, o uso combinado a outras substâncias, como cafeína, para potencializar o efeito, leva a um risco enorme para o sistema cardiorrespiratório”, afirma.
O efeito quase momentâneo dura cerca de alguns minutos, levando estudantes a fazerem o uso de mais doses, chegando a tomar 60 miligramas em um único dia, e abre uma porta de entrada para medicamentos mais pesados, diz Almeida, com base em relatos de alunos e pais.
Solução. Para o professor, uma das principais mudanças para reverter esse quadro seria restringir a prescrição desses medicamentos a médicos com formação em psiquiatria, psicologia e neurologia. O professor de psiquiatria infantil da UFMG Arthur Kummer não concorda e acredita que essa medida agravaria o quadro de TDAH no país.
“No Brasil temos uma carência enorme de profissionais, e depender desses especialistas para o diagnóstico certamente seria um risco. Penso que deveríamos ter uma melhor capacitação dos outros profissionais”, diz.
Kummer também diverge sobre as estimativas de Almeida. “Não dá para falar que metade das crianças já fez uso do medicamento. Algumas impressões subjetivas e enviesadas vêm de professores da rede particular que podem ter, de fato, um percentual maior de crianças diagnosticadas, mas muita gente com TDAH não está sendo tratada”. Ainda segundo Kummer, o medicamento tem eficácia bem estabelecida e é fundamental para o tratamento do transtorno.
“Crianças não tratadas podem ter uma série de repercussões em médio e longo prazos: acidentam-se mais, sofrem com o abandono e o desempenho pior na escola, dentre outros”, afirma.
Para o professor, o excesso da medicação começa com o diagnóstico precipitado do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que leva os alunos a serem submetidos a tratamentos desnecessários. Porém, as falhas também acontecem em outras esferas.
“A primeira está na família, que credita à escola o papel da formação. Em segundo, a escola, que deveria adequar seu modelo pedagógico, mas, por comodidade ou desconhecimento, induz os pais ao tratamento. Em terceiro lugar, o ato médico, e, por último, falta de controle do governo. E assim está criada a armadilha”, critica.
Com base nessa observação, Almeida estima que pelo menos metade das crianças e adolescentes em idade escolar tenha consumido a Ritalina frequentemente ou esporadicamente. “A maioria dos pais têm esse consumo institucionalizado, mas todo medicamento tem efeito colateral e, nesse caso, eles são mais danosos. Além disso, o uso combinado a outras substâncias, como cafeína, para potencializar o efeito, leva a um risco enorme para o sistema cardiorrespiratório”, afirma.
O efeito quase momentâneo dura cerca de alguns minutos, levando estudantes a fazerem o uso de mais doses, chegando a tomar 60 miligramas em um único dia, e abre uma porta de entrada para medicamentos mais pesados, diz Almeida, com base em relatos de alunos e pais.
Solução. Para o professor, uma das principais mudanças para reverter esse quadro seria restringir a prescrição desses medicamentos a médicos com formação em psiquiatria, psicologia e neurologia. O professor de psiquiatria infantil da UFMG Arthur Kummer não concorda e acredita que essa medida agravaria o quadro de TDAH no país.
“No Brasil temos uma carência enorme de profissionais, e depender desses especialistas para o diagnóstico certamente seria um risco. Penso que deveríamos ter uma melhor capacitação dos outros profissionais”, diz.
Kummer também diverge sobre as estimativas de Almeida. “Não dá para falar que metade das crianças já fez uso do medicamento. Algumas impressões subjetivas e enviesadas vêm de professores da rede particular que podem ter, de fato, um percentual maior de crianças diagnosticadas, mas muita gente com TDAH não está sendo tratada”. Ainda segundo Kummer, o medicamento tem eficácia bem estabelecida e é fundamental para o tratamento do transtorno.
“Crianças não tratadas podem ter uma série de repercussões em médio e longo prazos: acidentam-se mais, sofrem com o abandono e o desempenho pior na escola, dentre outros”, afirma.
“Volume consumido é o dobro do fabricado”
As anfetaminas, classe de drogas estimulantes da atividade do sistema nervoso central, à qual pertence a Ritalina, também estão muito presentes nas escolas, segundo o professor Geraldo Almeida.
“São reguladores de humor e antidepressivos, todos com ação psicoterápica. E a Ritalina, que era inicialmente usada por crianças do ensino fundamental para tratar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), acabou sendo descoberta também por adolescentes e pré-vestibulandos, tornando-se o carro-chefe dos medicamentos”, ressalta Almeida.
De acordo com o professor, o medicamento já está entre os mais falsificados e contrabandeados. “No país, o consumo já é maior do que a capacidade de fabricação e importação da droga. Em Porto Alegre, por exemplo, o volume consumido representa o dobro do disponibilizado formalmente no mercado. Isso significa que metade da Ritalina vem de fontes ilegais, como o contrabando e a distribuição ilegal pelos próprios fabricantes”, denuncia.
O problema não ocorre só no Brasil, mas também em outros países. Almeida revela que nos Estados Unidos o assunto já virou tema recorrente em congressos. “Lá, 70% dos jovens em idade escolar já usaram o remédio, que já se tornou um dos maiores problemas de saúde nos Estados Unidos”, afirma Almeida.
As anfetaminas, classe de drogas estimulantes da atividade do sistema nervoso central, à qual pertence a Ritalina, também estão muito presentes nas escolas, segundo o professor Geraldo Almeida.
“São reguladores de humor e antidepressivos, todos com ação psicoterápica. E a Ritalina, que era inicialmente usada por crianças do ensino fundamental para tratar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), acabou sendo descoberta também por adolescentes e pré-vestibulandos, tornando-se o carro-chefe dos medicamentos”, ressalta Almeida.
De acordo com o professor, o medicamento já está entre os mais falsificados e contrabandeados. “No país, o consumo já é maior do que a capacidade de fabricação e importação da droga. Em Porto Alegre, por exemplo, o volume consumido representa o dobro do disponibilizado formalmente no mercado. Isso significa que metade da Ritalina vem de fontes ilegais, como o contrabando e a distribuição ilegal pelos próprios fabricantes”, denuncia.
O problema não ocorre só no Brasil, mas também em outros países. Almeida revela que nos Estados Unidos o assunto já virou tema recorrente em congressos. “Lá, 70% dos jovens em idade escolar já usaram o remédio, que já se tornou um dos maiores problemas de saúde nos Estados Unidos”, afirma Almeida.
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