Com a agenda cheia, Carlinhos Brown estava há tempos sem viajar à Espanha, mas esta semana ele está de volta para participar no Festival Cultura Inquieta, em Madri, e passar sua mensagem sempre otimista, embora mostrando que seu descontentamento com a música cresce diariamente.
"Estou há 37 anos subindo e descendo dos palcos. Hoje, a arte me chama para um outro lado, com algo que a música não me oferece mais, porque atravessa um momento sem credibilidade. Foi usada para vender de tudo, de cosméticos a carro, e eu não quero colaborar com isso", explica em entrevista à Agência Efe.
Ele admite que ainda não estudou como seria essa mudança, e adianta que não pensa em um adeus definitivo, mas sim em uma mudança de rumo.
"Penso em buscar outro caminho. Não existe uma data para sair, mas uma data para buscar outra motivação. Eu gostaria muito, por exemplo, de ser professor de música para crianças. Nunca quis ser uma estrela pop. Meço meu sucesso não porque me disseram 'Que incrível é o Brown!', mas por ter conseguido alimentar os meus filhos com o trabalho que tanto sonhei", conta o artista.
Seja lá a decisão que tome, por enquanto ele continua como uma locomotiva em festa, e antecipa que planeja um tour por teatros.
"Sou semianalfabeto e toda a minha formação é oral, parte dela africana. Reivindiquei muito esta cultura e no Brasil as pessoas têm medo do passado escravista. Além disso, minha música é rebuscada, embora não o pareça", explica sobre as razões sobre as reservas iniciais a sua arte no Brasil.
Para o soteropolitano de 53 anos, que nasceu Antônio Carlos Santos de Freitas e se inspirou em James Brown para escolher seu nome artístico, "a situação dos negros no mundo não mudou com Barack Obama".
"No Brasil, por exemplo, 29 adolescentes negros morrem por dia, mas os principais problemas dos negros não estão nos Estados Unidos, nem no Brasil; estão na África, onde o povo continua passando necessidade, fome, vivendo preconceito e com falta de oportunidade", afirma.
E é por todo isso que ele insiste em sua mensagem de união.
"Só existe uma raça: a humana. Sempre existem dias difíceis, mas não posso ficar longe da beleza, da bondade nem de estender a mão aos amigos", pondera.
Sobre os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, ele se mostra cauteloso.
"Estão falando muito sobre as Olimpíadas, mas sabemos que as consequências só aparecem anos depois. O importante dos Jogos é que reúnem grandes homens, movidos pela competição, mas sem guerra. Só o tempo dirá se foi uma boa ideia a realização, mas é uma grande oportunidade", destaca.
Em seu mais recente álbum de estúdio, "Artefireaccua - Incinerando o Inferno", Carlinhos Brown fala da natureza e defende o "um consumo sustentável".
"Este planeta não é o fim. É o lugar para onde voltaremos", defende.
Em seu primeiro single, "Dois Grudados", ele enaltece o poder do amor e a mulher como figura central.
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