sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Hinduísmo e Meio Ambiente (Gazeta Digital)

Mundo do hinduísmo e meio ambiente


Questões ambientais parecem fáceis de serem entendidas, pois fazem parte dos livros didáticos e invariavelmente a maioria das pessoas já teve informações sobre o tema, assim como a mídia evidencia cotidianamente fatos, catástrofes e os mais diversos fenômenos que ocorrem quase em toda parte do globo terrestre devido às mudanças climáticas. No entanto, para os especialistas, em escala global, esse é um tema muito complexo, especialmente porque influencia as atividades humanas na Terra.
Sobre o convívio do homem com a natureza, dentre as maiores religiões da face da Terra, existe o hinduísmo, uma religião em que por volta de 1.200 a.C já havia textos sobre as tradições existentes. No entanto, foi somente no século XIX, com as formações religiosas entre os indígenas e os indianos é que foi denominada como "hinduísmo", nome dado inicialmente numa alusão à terra do vale dos Indus. Denominação também usada para se referir a um suposto sistema de crenças e práticas religiosas, de vocabulário comum, do povo indiano que não pertenciam ao Jainismo, nem ao Islamismo. Hindu foi ainda um termo que os muçulmanos utilizaram, na época, para denominar os nativos do Sul da Ásia que não tinham se convertido ao Islã.
Essa religião é tanto nova quanto secular, cresceu sem hierarquia única e não possui uma figura de fundador ou rigidez nos ensinamentos. E 83% da população da Índia comungam os preceitos nela existentes, que incorpora todas as formas de crença e culto sem necessitar de seleção ou eliminação de qualquer uma. É doutrinariamente tolerante e reverencia a divindade em todas manifestações. Embora com aspectos politeístas, estudiosos afirmam que o hinduísmo seja Henoteísta, uma espécie de transição com o monoteísmo por considerarem Brahma (O Absoluto) como o princípio de tudo.
É nessa multiplicidade de crenças, conforme apresenta o pesquisador do Yoga, Christopher Chapple, que se destaca a visão do mundo natural do hinduísmo, nascido nas beiras dos rios Indus e Ganges. Para os que professam essa religião, as montanhas, os rios, as árvores, são sagrados e relacionados à sobrevivência da terra e do povo, são considerados espíritos individuais cobertos pela consciência universal. Trata-se de uma sociedade tradicionalmente agrícola, da época em que produtos da Índia não apresentavam ameaça ao meio ambiente.
Para a cultura tradicional Hindu até o lixo é integrado ao ciclo dos processos da vida, a exemplo do excremento fecal da vaca, um animal onipresente para os indianos, recolhido em pequenas porções e vendido para ser usado como gás de cozinha. Outras práticas de tratamento ao lixo, secularmente praticadas por esse povo, senão fosse o atual esbanje de desperdício, seriam condizentes com um modelo ideal para um viver ecológico.
Para os hinduístas há uma correlação entre o mundo exterior e o indivíduo, que indica continuidade entre o homem e a natureza na criação cósmica. Eles acreditam que as forças que compõem o universo também se encontram dentro do corpo humano. Existe o Rig Veda, uma coleção de louvores em forma de hinos, composto de considerações às forças naturais, tais como os rios, que são vistos como deuses, o vento e o fogo como entidades masculinas. Há uma profunda relação entre a natureza, a ordem humana e o pensamento dos vedas que vêem todas as coisas do mundo material como atributos da consciência universal, na essência.
Ainda de acordo com Chaplle, "o lixo na Índia faz parte do cenário; a mãe terra da Índia recebe e processa todas as coisas". Porém, como o país indiano é uma das economias industriais que crescem muito, já possui desafios demasiados para os ambientalistas. Ao que se nota, o ambientalismo Hindu contemporâneo é motivo de preocupação, a poluição e o consumo desenfreados que provocam altos efeitos destrutivos, tudo isso pode dificultar o processo cultural hinduísta que há séculos apregoa o meio ambiente como sagrado. Contudo, parece que uma notável consciência ambiental está surgindo, observa o pesquisador. Na tradição Hindu, as pessoas não se separavam da terra, tudo era continuidade. Para a essência do pensamento Hindu a natureza está sendo desrespeitada e Ganges, a deusa mãe, parece inconsolável.
Essa relação do pensamento hinduísta com a natureza merece atenção e reflexão. Fica o desejo de que a essência brâmane seja permeada no planeta. Eis o que revela um dos hinos Veda: "Como uma árvore da floresta, simplesmente assim, certamente é o homem. Seus cabelos são folhas, sua pele, a copa da árvore. Da sua pele, o sangue; da árvore, a seiva flui. Dele vem um fluxo quando perfurado, tal como da árvore, quando cortada. Seus pedaços de carne são subcamadas de madeira. A fibra é como músculo forte. Os ossos são a matéria por dentro. O tutano é feito parecendo o miolo das plantas." No próximo artigo, a visão do budismo sobre o mundo natural.
Jair Donato é jornalista em Cuiabá, consultor de desenvolvimento de pessoas, professor universitário, especialista em Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida. E-mail: jair@domnato.com.br
 



// leia também

Sexta, 30 de outubro de 2015
00:00 - Assalto
Quinta, 29 de outubro de 2015
08:00 - Cesarianas
01:00 - Luma

 ver todas as notíciasp

Nenhum comentário:

Postar um comentário