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De todos ,para todos…..
Umbanda e o Meio Ambiente setembro 29, 2008
Posted by raizculturablog in Cultura & Massas.Tags: meio ambiente, meio ambiente no seculo 21, seculo XXI, trabalho de campo na umbanda, umbanda no meio ambiente
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Entramos no Séc. XXI com algumas questões ocupando o topo na lista de prioridades para a humanidade
e lá em cima vemos um “letreiro luminoso” e verde, piscando a palavra de ordem MEIO AMBIENTE.
A questão do Meio Ambiente hoje, já há muito tempo,deixou de ser um modismo para ser uma questão de sobrevivência,pois diz respeito ao presente e futuro da humanidade.
Antes de tudo, lembremos o que quer dizer Meio Ambiente,segundo Aurélio Buarque de Holanda, é:
“O conjunto de condições naturais e de influências que atuam sobre os organismos vivos e o ser humano” (1).
Ou seja refere-se a tudo o que nos cerca nesta Terra, ao nosso habitat e como vivemos nele.
Falar de Meio Ambiente e a Prática Religiosa, nos limitando apenas à relação da liturgia, ritualística e comportamento
dos umbandistas com a Natureza é correr o risco de nos alienarmos, às questões maiores.
Portanto entendo que se faz necessário lembrar ou esclarecer as questões que afetam o Brasil e o Mundo,
para então focarmos o impacto e a relação da ritualística de umbanda no Meio Ambiente.
“Fechar os olhos para as questões maiores é nos tornarmos míopes para nossas questões particulares.”
MUDANÇA DE PARADIGMA: “PLANO B”
Em 1856, o Chefe Seattle, Cacique dos Duwamish,
recebeu do governador de Washington, Isaac Stevens, uma proposta para vender as terras indígenas.
Vejamos algumas partes da resposta do Chefe Seattle:
“Como podes comprar ou vender o céu e o calor da Terra?
Essa idéia nos parece estranha…
Cada torrão desta terra é sagrado para o meu povo.
Cada folha reluzente de pinheiro,cada praia arenosa,cada véu de neblina na floresta escura,cada clareira e inseto a zumbir são sagrados nas tradições e consciência do meu povo.
A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do homem vermelho.
O homem branco esquece a sua terra natal, quando, depois de morto, vai vagar por entre as estrelas.
Os nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra, pois ela é mãe do homem vermelho.
Somos parte da Terra e ela é parte de nós…
Esta água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver.
Para ele um lote de terra é igual ao outro,
porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita.
A Terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga…
Ele trata sua mãe, a Terra, e seu irmão, o Céu, como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas…
Sua voracidade arruinará a Terra, deixando para trás apenas um deserto.
Nossos modos diferem dos teus…
Mas talvez isso seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada entende…
O ar é precioso para o homem vermelho,
porque todas as criaturas participam da mesma respiração…
O homem branco não parece perceber o ar que respira…
Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a Terra é nossa mãe.
Tudo quanto fere a Terra, fere os filhos e filhas da Terra.
Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
De uma coisa sabemos: a Terra não pertence ao homem.
É o homem que pertence à Terra.
Disto temos certeza.
Todas as coisas estão interligadas como o sangue que une uma família.
Tudo está relacionando entre si.
Não foi o homem que teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma.
Tudo o que fizer à trama, a si mesmo fará…
Nem o homem branco com seu Deus, está fora do destino comum.
Poderíamos ser irmãos, apesar de tudo.
De uma coisa sabemos que o homem branco venha talvez, um dia, a descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus.
Talvez julgues que O podes possuir do mesmo jeito que deseja possuir a nossa terra.
Mas não o podes.
Ele é Deus da Humanidade inteira.
Ele tem a mesma piedade para com o homem vermelho e para com o homem branco.
Esta Terra é preciosa para Ele. Causar dano à Terra é desprezar o seu Criador.
Os brancos também vão acabar um dia. Talvez mais cedo do que todas as demais raças.
Continuem! Poluam sua cama! Numa noite, irão morrer sufocados nos próprios dejetos!
Não conseguimos imaginar como será quando os bisões forem massacrados,
os cavalos selvagens domesticados,
os recantos mais reclusos da floresta infestados pelo cheiro de muita gente
e as colinas ondulantes cortadas por fios que falam.
Onde ficou a floresta densa e fechada?
Acabou.
Onde está a águia?
Foi embora.
Que significa dizer adeus ao pony ligeiro e à caça?
É o fim da vida e o começo da sobrevivência.
Depois que o ultimo homem vermelho tiver partido
e a sua lembrança não passar de sombra de uma nuvem pairando sobre as pradarias,
a alma de meu povo continuará vivendo nestas florestas e praias,
porque nós a amamos como um recém-nascido ama o pulsar do coração de sua mãe.
De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus.
Esta Terra lhe é sagrada.
Nem mesmo o homem branco pode esquivar-se do destino comum a todos nós.” (2)
Hoje, 152 anos depois, as palavras do Chefe Seattle se confirmam,
como uma verdadeira profecia, somos vitimas de nós mesmos,
somos vitimas do desequilíbrio ambiental que estamos causando a nosso Planeta Terra.
Aquecimento global, furacões, tisunãmis e derretimento da camada polar,são apenas alguns dos graves problemas,apontados como resultado da destruição na camada de ozônio.
Segundo o ambientalista Lester Brown (3):
“no verão passado, os especialistas ficaram pasmados diante da acentuada perda de gelo no Ártico. Uma área de quase duas vezes o tamanho da Grã-Bretanha desapareceu em uma semana. A calota de gelo da Groenlândia está derretendo tão rapidamente que está provocando pequenos terremotos à medida que imensos blocos, pesando bilhões de toneladas, se soltam das plataformas e caem no mar. Se não conseguirmos reduzir as emissões de gás carbônico rápido o bastante para poder salvar estas duas imensas plataformas de gelo, o nível dos mares subirá 12 metros, inundando muitas cidades costeiras do mundo.”
Muito mais, ainda, se pode esperar do homem como agente agressor,
enquanto a natureza apenas reage,
o fato é que só quem pode fazer algo é esta nossa geração,
na próxima já pode ser tarde para querer parar este processo.
O Chefe Seattle não apenas previu um desastre ambiental ele também mostrou possíveis soluções para evitá-lo.
Lester Brow diz que precisamos de um “Plano B”: plano abrangente para reverter todas as tendências que estão minando gradativamente a civilização.
Leonardo Boff em seu excelente livro “Ecologia: Grito da Terra, Grito dos Pobres”
, aponta, de forma excelente estas questões e diz que precisamos de uma mudança de paradigma.
Pois no velho paradigma a natureza estava ai para ser explorada ao máximo
e agora estamos buscando soluções para entender este
novo paradigma de que a Terra é um organismo vivo
e que alguns de seus recursos como carvão, petróleo e água são finitos.
A Terra, deve ser respeitada e cuidada, não apenas vivemos sobre ela,
interagimos com ela o tempo todo, nós e a Terra somos UM.
Precisamos resgatar valores que foram perdidos, quando a religião e a cultura reverenciavam a natureza.
A relação entre a religião e o Meio Ambiente é muito forte,
o velho paradigma de subjugar a Terra,
começa com a cultura Judaico-Cristã, nos textos Bíblicos que dizem:
“Multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a (domine, subjugue, controle…).
Dominai sobre os peixes do mar,
sobre os pássaros dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra” (Gen 1,28)
“Vós sereis objeto de temor e de espanto para todo o animal da terra,
toda a ave do céu,
tudo o que se arrasta sobre o solo e todos os peixes do mar:
eles vos são entregues nas mãos.” (Gen 9, 2)
São estes conceitos bem diferentes da Mãe Gaia dos gregos, Cibele a “Magna Mater”dos Romanos, Pacha Mama dos andinos, Ma Emma dos Estonianos e tantas outras que nos fazem lembrar que a Terra, a nossa Terra, a Mãe Terra, é um organismo vivo e deve ser cuidada com amor.
Enquanto umbandistas este também deve ser nosso desafio!
Levantar mais esta bandeira!
Afinal somos uma Religião da Natureza!
Na visão de dentro para fora, muitos umbandistas crêem que a Umbanda é a “Religião do Futuro”, se é assim devemos ter um olhar para o futuro, os pés bem plantados na Terra, no presente, e uma mente projetada para o que virá, interagindo, no mínimo como formadores de opinião. A Umbanda que traz o culto às forças da natureza deve ser antes de qualquer coisa uma guardiã desta natureza.
A AMAZÔNIA
E já que estamos falando de Natureza…
“O desmatamento na Amazônia continua em alta… Dados do sistema Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que detecta a devastação em tempo real, mostram que no mês de fevereiro foram derrubados 724 quilômetros quadrados de floresta na região, um número 12% maior que os 639 quilômetros quadrados derrubados em janeiro.” (4)
É muito conhecida a frase do ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, que diz:
“Ao contrário do que pensam os brasileiros, a Amazônia não é propriedade deles, pertence a todos nós.”
E ele não é o único a ter esta opinião…
UMBANDA
Umbanda é a Religião da Natureza, logo o mínimo que se espera dos umbandistas é consciência ecológica e conhecimento ambiental.
Não basta incorporar o espírito de um índio,
precisamos incorporar os valores deste índio,
os valores do caboclo,
os valores da Terra,
os valores do Chefe Settle.
Enquanto Umbandistas,
temos uma responsabilidade ainda maior,
afinal… somos nós que reverenciamos nossos Orixás na Natureza.
Amar o Orixá é Amar a Natureza, é cuidar da Natureza.
Nossas oferendas também criam impacto ambiental e social.
Fazemos rituais nas matas, cachoeiras, rios, lagos, bosques, campinas, mirantes, montanhas, pedreiras, caminhos, ruas, encruzilhadas, estradas, campo santo e no mar.
Uma das maiores causas de incêndio acidental nas matas são causados por velas e cigarros.
Os elementos de plástico, vidro e metal, como copos, garrafas e latas, levam um tempo quase que indeterminado para se decompor na natureza.
Como diria o querido Pai Ronaldo Linares:
A oferenda de hoje é o lixo de amanhã!!!
Podemos, portanto, pensar em oferendas biodegradáveis e além de não sujarmos, procurar limpar o ambiente onde estamos trabalhando, realizando nosso culto, nossa oferenda.
Também precisamos atentar para as questões de ética e bom senso no convívio em sociedade, pois cada vez se faz mais perigoso as oferendas em encruzilhadas e desagradável ao morador que acorda cedo e encontra uma oferenda em sua porta.
Uma solução viável é conquistarmos espaços públicos e privados para fazer nossas oferendas,
como o Cemitério de Diadema (Iniciativa do irmão Cássio Lopes).
Devemos perguntar a nossos guias alternativas para não agredirmos o meio ambiente, com certeza eles nos ajudarão.
Pai Ronaldo Linares e Jamil Rachid, presidentes das duas maiores Federações de Umbanda que se tem noticia, pensaram nestas questões já há muitos anos e tiveram a iniciativa de criar o Santuário Nacional da Umbanda, em Santo André, e o Vale dos Orixás em Juquitiba. Locais destinados para nossos trabalhos espirituais na natureza, com organização e segurança, onde encontramos os Pontos de Força de nossos Orixás para realizar nossas oferendas. Parabéns a estes esemplos em nossa religião, pois só por esta iniciativa já o teriamos como dois dos maiores batalhadores para a umbanda conquistar seu devido espaço, no entanto sabemos que ao contrário tal iniciativa é resultado, também, de muito trabalho, suor e dedicação à causa Umbandista…
Umbanda é uma Religião, portanto só pode única e exclusivamente praticar o bem,
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