A MAÇONARIA E O MEIO AMBIENTE
AMaçonaria não deve discutir opções políticas, mas também não ignora os grandes temas da Civilização e da Sociedade e procura ajudar a refletir sobre eles, estejam ou não na Ordem do Dia, sejam ou não objeto de controvérsia.
Seja no âmbito regional, nacional ou internacional um tema atinge diretamente a própria sobrevivência de todos nós, maçons ou não.
No curso do desenvolvimento das nações, vários fatores contribuem para o surgimento e agravamento dos problemas ambientais, tais como: o crescimento populacional, a industrialização, a urbanização acelerada provocada principalmente pelo êxodo rural, a poluição e o esgotamento dos recursos naturais; sendo que a forma como estes fenômenos se organizam e se reproduzem vem causando uma degradação crescente e de efeitos imprevisíveis ao meio ambiente planetário.
A contradição nas relações Homem-Natureza consiste, principalmente, nos problemas dos processos industriais criados pelo Homem. Esse processo é visto como gerador de desenvolvimento, empregos, conhecimento e maior expectativa de vida. Porém, o homem se afastou do mundo natural, como se não fizesse parte dele. Com todo esse processo industrial e com a era tecnológica, a humanidade conseguiu contaminar o próprio ar que respira, a água que bebe, o solo que provém os alimentos, os rios, destruir florestas e os habitats animais. Todas essas destruições colocam em risco a sobrevivência da Terra e dos próprios seres humanos.
Mesmo que o homem tenha hoje uma maior consciência sobre sua intervenção no mundo natural, o que podemos até considerar um avanço, mediante as grandes degradações que já ocorreram até agora, ainda não há coerência suficiente. Ou seja, muitas ações deveriam ser colocadas em prática para a preservação do meio ambiente como um todo. O que vemos atualmente é que os índices de degradação aumentaram, enquanto de um lado existem muitos lutando por um mundo melhor para todos, de outro lado, a grande maioria busca seu próprio crescimento econômico, com o objetivo de consumir cada vez mais, e como consequência, consumir mais recursos naturais, ocasionando a degradação, sem se preocupar e muitas vezes sem saber, que esses recursos muitos são renováveis e não são infinitos.
A ação da espécie humana sobre o meio ambiente tem uma característica qualitativa única: possui um enorme potencial desequilibrador, pois as mudanças que provoca nem sempre são assimiláveis pelos ecossistemas, ameaçando assim a permanência dos sistemas naturais.
A Maçonaria não está – nem deveria – de braços cruzados, e acompanha com muita preocupação e expectativa as ações nocivas que veem acontecendo com o nosso planeta. A crise ambiental enfrentada apresenta várias nuanças normalmente percebidas apenas nos sintomas que afetam diretamente o ser humano. Ocorre que diversas outras formas de vida também estão sendo afetadas pelo desequilíbrio ecológico gerado pelo homem. Foge, entretanto, de sua percepção, o fato de que grande parte deste desequilíbrio está sendo gerado, exatamente, pela profunda degradação destes seres vivos e seus ecossistemas. As novas leis de proteção ao meio ambiente desenvolvidas pelos organismos mundiais, passam a ter grande importância para a humanidade, por isso torna-se necessário a intervenção de todos, para garantirmos as mesmas condições de vida que temos hoje aos nossos descendentes.
A primeira grande investida global em defesa do meio ambiente ocorreu em junho de 1972, durante a Conferência de Estocolmo. Tendo em vista esses problemas, era necessário organizar uma convenção na qual países se propunham a fazer uma parcela de ajuda ao mundo. Foi então quando a ONU decidiu inaugurar a Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente.
Essa Conferência chamou a atenção das nações para o fato de que a ação humana estava causando séria degradação da natureza e criando severos riscos para o bem-estar e para a própria sobrevivência da humanidade. Foi marcada por uma visão antropocêntrica de mundo, em que o homem era tido como o centro de toda a atividade realizada no planeta, desconsiderando o fato de a espécie humana ser parte da grande cadeia ecológica que rege a vida na Terra.
Vinte anos depois foi a vez do Rio de Janeiro sediar a Conferência. As atenções do mundo se voltaram para o Brasil no período de realização da chamada Rio+20.
A Conferência do Rio consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável e contribuiu para a mais ampla conscientização de que os danos ao meio ambiente eram majoritariamente de responsabilidade dos países desenvolvidos. Reconheceu-se, ao mesmo tempo, a necessidade de os países em desenvolvimento receberem apoio financeiro e tecnológico para avançarem na direção do desenvolvimento sustentável.
Pessimismo à parte, mas infelizmente o resultado da Conferência não foi o esperado. Os impasses, principalmente entre os interesses dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, acabaram por frustrar as expectativas para o desenvolvimento sustentável do planeta. O documento final apresenta várias intenções e joga para os próximos anos a definição de medidas práticas para garantir a proteção do meio ambiente. Muitos analistas disseram que a crise econômica mundial, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, prejudicou as negociações e tomadas de decisões práticas.
Sempre preocupada com o bem-estar do próximo e tendo como uma de suas principais metas tornar feliz a humanidade, a Maçonaria passou a adotar uma postura mais prática no enfrentamento da crise ambiental.
Aqui em Goiás, a Grande Loja Maçônica passou a trabalhar mais efetivamente na conscientização dos membros da Ordem, as Cunhadas e os Sobrinhos. A pauta Meio Ambiente se tornou tema obrigatório em nossos Encontros, Assembleias e reuniões. Passamos a convidar pessoas ligadas ao meio ambiente, ONGs e poder público para proferir palestras e promover debates.
Realizamos periodicamente o plantio de árvores nos espaços maçônicos e áreas públicas, numa clara demonstração à sociedade que a Ordem está fazendo a sua parte. A Grande Loja Maçônica do Estado de Goiás tem incentivado também a realização, por parte da comunidade goiana, de ações em prol da preservação do meio ambiente. Um exemplo é a Caminhada Ecológica de Goiânia ao município de Aruanã, às margens do Rio Araguaia.
Em todas as iniciativas e promoções que a GLEG tem incentivado, a responsabilidade ambiental tem sido claramente difundida e a importância da reciclagem nos aspectos econômicos, sociais e ambientais da mesma forma.
Ao buscar uma ampla reflexão sobre a questão ambiental, outro grave problema tem causado desconforto, principalmente para nós da região Centro-Oeste: o cerrado.
Em quatro décadas, o cerrado – o segundo maior bioma do país, que se estende por uma área de 2.045.064 quilômetros quadrados pelos Estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí e o Distrito Federal – se transformou no maior produtor de grãos e de carne em área tropical do mundo. Os benefícios para a mesa do brasileiro e para os cofres do país são amplamente sabidos. O preço, no entanto, foi o desmatamento desordenado e o surgimento de vastas áreas degradadas.
Ao longo dos últimos 50 anos, mais de 54 milhões de hectares de cerrado deram lugar a pastagens e outros 22 milhões estão ocupados por plantações de grãos, mas grande parte dessas áreas, sobretudo as ocupadas pela pecuária, estão degradadas e produzem muito menos do que poderiam produzir.
O que mais nos preocupa é que, nesse ritmo, não demora duas décadas para que o Cerrado Brasileiro esteja sem vegetação natural e, quando isso ocorrer, essa que é reconhecida como a segunda savana mais rica do mundo em biodiversidade, com a presença de inúmeros ecossistemas, riquíssima flora com mais de 7.000 espécies de plantas, sendo 4.000 endêmicas desse bioma, e mais de 1.500 espécies de animais, grande parte deles já correndo risco de extinção em virtude da ação criminosa do homem, poderá ser vista apenas nos livros de biologia.
A ambição humana destrói a natureza desde o início da civilização mundial, no entanto, para que haja mudanças nesse aspecto, a educação é fundamental. É preciso que as escolas, as igrejas, ONGs e a sociedade em geral, assumam esta temática como conteúdo de aprendizagem e debatam o tema de maneira interdisciplinar e responsável, visando, principalmente, a formação de cidadãos conscientes quanto à preservação do meio ambiente. É exatamente esse caminho que a Maçonaria goiana adotou ao incentivar a conscientização dos Demolays e Filhas de Jó, pois entendemos que a preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação. A partir desse ponto de vista, percebe-se que a educação age diretamente na formação do cidadão, pois está presente em todos os setores da sociedade. Neste sentido, e é o que estamos repassando à família maçônica, é necessária uma educação que induza o indivíduo a cuidar do próprio ambiente, isto é, uma educação que forme “sujeitos ecológicos”, verdadeiramente compromissados com a preservação do meio ambiente, ou seja, que estes possam agir na sociedade de forma responsável, e ainda, que a educação ambiental também esteja presente na relação entre os valores éticos e morais na questão ambiental. Assim, a educação ambiental deve ser abordada num contexto de interdisciplinaridade, ou seja, não deve atuar somente no campo biológico, mas também, no campo ético, político, econômico e social. Desta forma estaremos, de fato, dando um importante passo rumo à salvação de nosso planeta.
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