15 filmes políticos para assistir em tempos eleitoraisProduções retratam episódios históricos e temas como liberdade e corrupção
Filmes com temática política podem ser sérios, cômicos, documentais e até românticos. Mas, sejam baseados em fatos reais ou imaginados apenas para as telas, eles sempre funcionam como um alerta para as nossas convicções.
Em época de eleições, GQ lista 15 obras cinematográficas sobre política que podem ajudar a debater assuntos como liberdade e interesses público e privado.
Persepolis (2007), de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud
Uma menina que queria ser profetisa aprende a duras penas quais rumos uma rebelião política pode tomar. Tanto quanto a trajetória de vida da escritora e ilustradora Marjane Satrapi o que se vê na tela é um conto sobre revolução (a Iraniana de 1979), guerra (Irã-Iraque, que matou 1 milhão entre 1980 e 1988) e conceitos de liberdade (social e individual). Baseada no romance gráfico homônimo, de 2007, a animação sensibiliza e questiona com seu visual simples e personagens como a vovó libertária.
Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado
Didático, divertido e duro. O curta-metragem, premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim (1990), parece uma aula para extraterrestres entenderem o que é o ser humano, o dinheiro ou de que forma se dão as relações sociais e econômicas na Terra. Só parece: mais de 20 anos depois, a história do tomate, dos porcos e de seu dono, e das mulheres e crianças que moram no lixão segue sendo um forte lembrete ao homem sobre sua realidade.
Tempos Modernos (1936), de Charlie Chaplin
Numa época em que se tentava freneticamente aumentar a produção e a competitividade, com a economia ainda se recuperando da Grande Depressão de 1929, Charlie Chaplin fez piada do tema e elevou o nível do debate. Se trabalhar provém o sustento e dignifica o homem, também pode levá-lo a situações desumanas e até ao colapso nervoso. Destacam-se ainda a beleza e graciosidade de Paulette Goddard e cenas cheias de poesia, como a que mostra Carlitos deslizando em meio a engrenagens de uma máquina em funcionamento.
Adeus, Lênin! (2003), de Wolfgang Becker
O filme que fez sucesso, ao mostrar a queda do Muro de Berlim pela perspectiva de habitantes da antiga Alemanha Oriental, é repleto de cenas hilárias, mas este não é seu único trunfo. A nova condição se torna uma estrada sentimental (ora doce, ora amarga) para o personagem Alex, por onde passam amizades, laços familiares e descobertas reveladoras. Aqui, como na vida e na política, tudo que é sólido pode desmanchar no ar.
Z (1969), de Costa-Gavras
Thriller que encena em francês um caso real ocorrido na Grécia, no qual o deputado Gregoris Lambrakis foi assassinado após um comício em 1963. O resultado é mais um suspense político do que policial, recheado de gradativas conspirações e tentativas militares de abafar o episódio perante à opinião pública e à Justiça. Premiada com o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1970, a produção tem bela trilha sonora, assinada por Mikis Theodorakis.
Capitães de Abril (2000), de Maria de Medeiros
A atriz e diretora retrata de forma comovente – algumas vezes até engraçada – a Revolução dos Cravos, ocorrida em Portugal em 25 de abril de 1974. Dando ênfase ao papel do capitão Salgueiro Maia (um dos protagonistas da rebelião, interpretado por Stefano Accorsi), ela mostra como o movimento militar, que pretendia derrubar a ditadura implantada 47 anos atrás, saiu dos quartéis e se tornou realidade nas ruas de Lisboa. O longa é obrigatório para entender o dia em que o exército reinstalou a democracia e recebeu flores do povo.
Dr. Fantástico (1964), de Stanley Kubrick
A fina ironia contida neste clássico faz rir de uma crise nuclear que pode destruir a vida na Terra. Em pleno auge da Guerra Fria, Kubrick leva à tela soldados que nem mesmo sabem a razão de sua missão, um general que se vangloria do poderio de seu exército, a espionagem e as diplomacias norte-americana e soviética tentando se entender dentro da “Sala de Guerra”. A produção enfoca até onde pode chegar a paranoia, algo sempre atual quando se trata de preconceitos, movimentos políticos ou eleições.
No (2012), de Pablo Larraín
Para contar o plebiscito chileno de 1988, que opunha o Sim da continuação da ditadura de Augusto Pinochet ao Não da abertura política, Pablo Larraín utiliza alguns artifícios interessantes. Além de produzir cenas que parecem retiradas de uma fita VHS, o diretor destaca o personagem René Saavedra, papel de Gael García Bernal, inspirado nos publicitários que criaram as peças da chapa Não para a campanha, e usa imagens de arquivo para que o espectador possa ver as reais propagandas eleitorais feitas para a época. O resultado é um ótimo retrato daquele momento histórico.
As Mãos sobre a Cidade (1963), de Francesco Rosi
Imagine a seguinte situação: a um mês das eleições municipais, um prédio construído pela empreiteira de um vereador ligado à atual administração desaba, mata duas pessoas e desabriga centenas de moradores vizinhos ao empreendimento. Criada por Rosi e Raffaele La Capria, esta trama passada em Nápoles mostra a especulação imobiliária travestida de interesse público pelo próprio poder. O filme é tão direto como sugere a cena em que o prefeito distribui dinheiro na Câmara e diz a um correligionário “vê como funciona a democracia?”.
Entreatos (2004), de João Moreira Salles
Em 2002, João Moreira Salles e sua equipe acompanharam Lula durante um mês, entre o 1º e o 2º turnos, da campanha eleitoral. O que surge daí, porém, não é um emaranhado de imagens de comícios, carreatas e debates – é antes de tudo um documentário de bastidores, no qual o então candidato conta histórias de sua vida e discute política e o PT. O filme pode ser visto hoje como o documento de uma época, um quadro pré-Presidência da República do político e de seu partido.
Guelwaar (1992), de Ousmane Sembène
Considerado um mestre do cinema, o senegalês Ousmane Sembène (1923-2007) forjou uma peça política e provocativa não só a respeito de seu país, mas sobre o continente africano. Ao nos mostrar como o líder católico Pierre Henri Thiourne, o Guelwaar, morreu e foi enterrado por engano no cemitério de um vilarejo muçulmano, o diretor mescla drama e comédia para falar de conflitos religiosos, ajuda humanitária, corrupção e pobreza. Baseado em parte num fato real ocorrido no fim dos anos 1980 no Senegal, a galeria de tipos e situações torna a produção uma pequena joia.
Todos os Homens do Presidente (1976), de Alan J. Pakula
Sim, é o famoso filme sobre o caso Watergate (acontecido em 1972), a renúncia do presidente norte-americano Richard Nixon e os então iniciantes jornalistas doWashington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein. E para quem acha pouco, tem mais. É a história da obsessão de dois repórteres e sobre como “seguir o dinheiro” descoberto num escândalo pode atingir os mais altos escalões do governo à maneira do efeito dominó.
Please Vote for Me (2007), de Weijun Chen
Numa escola de Wuhan, na região central da China, os alunos da professora Zhang deparam-se com uma nova experiência para eles: participar de uma eleição para monitor da classe. Feito para a série Why Democracy?, o documentário mostra de que forma os candidatos (dois meninos e uma menina, de apenas 8 anos de idade) lidam com o desafio em debates e discursos e encaram sua própria insegurança frente aos colegas eleitores. Brilhante.
O Encouraçado Potemkin (1925), de Sergei M. Eisenstein
Inspirada numa das manifestações populares de 1905 contra o império czarista russo, a obra acompanha os marinheiros que se revoltam com a precária alimentação servida no navio de guerra Potemkin. A crescente tensão social e política em cada uma de suas cinco partes fez o filme ser proibido, por exemplo, no Reino Unido, até 1954, e mesmo na União Soviética de Stalin por ser “perigoso”. A sequência de cenas na escadaria de Odessa (hoje, na Ucrânia) tornou-se um marco da história do cinema.
O Desafio (1965), de Paulo Cezar Saraceni
Ao retratar os desencontros amorosos de um casal, no período pós- golpe militar de 1964, Paulo Cezar Saraceni tenta mostrar de que forma parcelas da população reagiram à nova situação política. Enquanto a história avança e o medo toma conta “de tudo e de todos”, o país e o romance entre Ada (Isabella), a mulher de um empresário, e Marcelo (Oduvaldo Vianna Filho), um jornalista, caem numa espiral de incertezas. O filme traz cenas do espetáculo teatral Opinião, com apresentações de Zé Keti, Maria Bethânia e João do Vale, e canções como Eu Vivo num Tempo de Guerra, de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri.
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