A pedidos, prefeito de Ribeirão, Saulo Benevides, tem mais 180 dias para decidir pela preservação ou demolição
No final dos anos 1960, ela estava no auge. Viu Jô Soares e a trupe do seriado Família Trapo usar sua fachada como cenário de filme. Emprestou cômodos para o humorista Ronald Golias fazer trapalhadas na obra Golias contra o Homem das Bolinhas. Em posse de Herbert Richers, dono do principal estúdio de dublagens na época, a casa respirava o cenário audiovisual brasileiro.
Hoje, o brilho de outrora se perdeu em telhas trincadas e cacos de vidros. Escondida por uma fachada de loja, a residência é um ponto turístico esquecido na orgulhosa estância de Ribeirão Pires. Após embates entre os atuais donos e a população local, o espaço terá que aguardar mais alguns meses para saber se renasce ou se será destruído.
Uma das possíveis soluções para a Casa de Herbert Richers, em Ribeirão, é transformá-la em um museu do cinema. Foto: Rodrigo Pinto
“A gente se reuniu na última quarta-feira (30/09) para decidir se prorrogaríamos o prazo do tombamento provisório municipal da casa. Votamos e decidimos prorrogá-lo por mais 180 dias”, contou Maurício Tintori, presidente do Conselho do Patrimônio Histórico de Ribeirão.
De acordo com a legislação do município, cabe ao Conselho decidir sobre a preservação temporária de locais que apresentam valores históricos. Essa é a situação da Casa de Herbert Richers. Entretanto, os atuais proprietários do terreno, a Lojas Cem, alegam que não existe fator cultural na estrutura e que, por se tratar de uma construção antiga, é necessário demoli-la para atender exigências ambientais. Após um processo aberto pelo Conselho e contestado duas vezes pela Lojas Cem, a decisão final está nas mãos do prefeito, Saulo Benevides.
Com o prazo para resposta encerrado no fim de setembro, o prefeito solicitou ao Conselho a prorrogação do tombamento provisório e, consequentemente, a prorrogação de sua análise. “O tombamento provisório somente pode ser prorrogado uma única vez. Durante este período não são permitidas quaisquer ações na casa. Mas a decisão continua em posse do prefeito. Como é um tema muito complexo, acredito que ele tentará entrar num acordo com todas as partes envolvidas”, considerou Maurício. Após o novo prazo, o destino da casa deverá ser definido até março de 2016.
Ausência de diálogo complica decisão
Entre as possíveis soluções apresentadas pelo Conselho do Patrimônio Histórico está a transformação da residência em um museu do cinema. Conforme justificativas no processo judicial, os responsáveis defendem que tombamento não é desapropriação e que, em nenhum momento, o espaço deixaria de ser de posse dos atuais titulares. Mesmo com a extensa argumentação e dossiê comprovando o fator histórico da casa, os proprietários negaram o diálogo.
“Nenhum representante da Lojas Cem veio falar com a gente, todos os comunicados vieram através do processo judicial. É um direito deles. E acredito que será assim até o fim.” Dependendo das tratativas municipais, o Conselho não descarta a articulação em outros órgãos de preservação histórica. “Não chegamos a procurar o Ministério Público para um tombamento estadual, mas não descartamos a hipótese de contatá-los.”
Procurada, a Prefeitura de Ribeirão emitiu uma nota confirmando a prorrogação do prazo para o tombamento provisório. Segundo o documento, “o prazo foi estendido para maior apreciação do chefe do Executivo quanto ao caso.”
Apesar de ser o principal envolvido no futuro da residência, o prefeito Saulo Benevides recusou-se pronunciar sobre o tema. Conforme agenda municipal, ele está em compromissos externos até o dia 05/10. Também requisitada pela reportagem, a Lojas Cem não foi encontrada nos telefones anteriormente informados.
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