quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Em Salvador, muitos rejeitam os abrigos e preferem as rua


Salvador é a terceira cidade no Brasil em número de moradores em situação de rua.

Antes mesmo de inaugurar sua  galeteria, na rua Djalma Dutra, o comerciante Vanutti Farias resolveu protegê-la com grades. A razão não é propriamente por segurança, mas sim para evitar que o pátio da loja seja ocupado por moradores de rua. Nos últimos dias o espaço vem sendo utilizado como dormitório e sanitário público, a exemplo do que vem ocorrendo em diversos outros pontos.
Segundo relatório da Coordenadoria Geral dos Direitos da População de Rua, ligada ao Ministério do desenvolvimento Social, publicado em 2013, Salvador é a terceira cidade no Brasil em número de moradores em situação de rua. Até 2013, segundo a contagem do MDS, eram 3.289 pessoas que viviam nas ruas da capital. A maioria era de homens e 35,5% deles tinham problemas com alcoolismo e drogas.
Para os comerciantes da Rua Djalma Dutra, a situação parece ter fugido de controle, pois durante o dia os espaços são demarcados com papelões, colchonetes e panos nas calçadas. E à noite, esses espaços viram dormitórios e sanitários. “Todos os dias temos que lavar e limpar restos de comida, urina e fezes”, diz uma comerciante. Vanutti, por sua vez, argumenta que não tem como impedir, “mas vou colocar as grades para mostrar que não se pode fazer daqui (o espaço) dormitório”, disse.
Para o secretário de  Municipal de Promoção Social, Esporte e Combate à Pobreza (Semps), Bruno Reis, o maior problema é a recusa do próprio morador em situação de rua se recolher aos abrigos municipais. Nesses locais, além da assistência social e psicológica, eles têm direito a três refeições diárias, dormida e material de higiene pessoal, além de troca de roupas. “Em muitos casos, como se vê, trata-se de dependentes químicos e com problemas mentais”, disse.
A partir do próximo ano a Prefeitura vai dispor de sete centros de acolhimento  e cinco centros de triagem da população de rua. Atualmente já funciona as unidades no Bonocô, com previsão para o próximo mês de duas unidades de acolhimento, Aquidabã e na Sete portas. Ao todo, segundo Bruno Reis, serão  mais 700 vagas em toda a cidade. “Temos vagas para acolher essa população, mas há uma recusa dela em aceitá-la”, disse.
Segundo o titular da Semps, para o próximo ano a Prefeitura pretende colocar no orçamento R$ 20 milhões para atendimento social, incluindo a construção das novas casas de acolhimento e reforço no número de equipes de abordagem de rua. Bruno Reis destaca que atualmente o município mantém um custeio de R$ 3 mil per capita para atendimento à população em situação de rua, desde o acolhimento, atendimento psicossocial ao custeio no auxílio passagem e auxílio moradia.
MAIS DE 3 MIL
Da população de rua estimada em mais de três mil pessoas, 961 delas vivem em centros de acolhimento mantido pelo município. O trabalho social inclui ajuda para tirar documentos, busca de familiares e até mesmo envio, mediante custeio de passagens, para seus locais de origem. Além disso, para quem não tem onde morar, a Prefeitura atende a 239 famílias em situação de extrema pobreza que vivem do auxílio-aluguel de R$ 300 mensais.
O retrato da miséria social invade as calçadas à noite
As marcas são vistas durante o dia nas calçadas: como territórios demarcados, são sinalizadas com pedaços de pano, colchonetes e até mesmo estrados de camas, avisando que ali é o espaço destinado a um morador de rua, e por isso mesmo, ao escurecer, torna-se privativo dessa população que habita as grandes cidades.
Assim é que toda a extensão das calçadas da Rua Djalma Dutra, na Sete Portas, se transforma em um grande dormitório a céu aberto. Ali  a dona de um restaurante, Nívea Freitas, diz que há 10 anos convive com essa situação, mas que nos últimos meses o quadro social se deteriorou. “Basta começar a escurecer que todas as calçadas viram dormitórios. São 30, 50, que vêm com papelões, colchonetes e se apossam das calçadas e marquises”, diz.
No Brasil, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2013 dos 5.561 municípios ,  em 2.032 possuem existiam Centros de Referência Especializado para População em Situação  de Rua. Hoje existem os Centros de Referência de Assistência Social.  Já os Centros de Convivência, que funcionam como abrigos, somam 11.797  unidades distribuídas em 3.065 município.
Centro e bairros
As cenas de calçadas à noite ocupadas por moradores de rua não é mais um privilégio da Avenida Sete, Praça da Pìedade e Estação da Lapa. No centro da cidade.  No Largo dos Mares, na Cidade Baixa, a praça vira um imenso camping de rua, o mesmo acontecendo no largo da Calçada e até mesmo ao longo das ruas Barão de Cotegipe e Avenida Fernandes da Cunha.
Na antiga Estação Rodoviária, próxima à Baixa de Quintas, o que deveria ser uma calçada do antigo almoxarifado do INSS, virou dormitório párea mais de 20 pessoas. Há espaços delimitados onde à noite se abrigam idosos, mulheres e crianças. Cães impedem a aproximação de estranhos. ‘A gente tem que conviver com isso, pois muitos são usuários de drogas e se tornam violentes quando  fazemos qualquer tipo de reclamação”, disse um funcionário de uma pousada no local.
Maior população de rua está em São Paulo e no Rio 
Segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), referentes a 2013, Salvador é a terceira cidade com maior número de moradores em situação de rua.
Cidade        População
São Paulo        13.666
Rio de Janeiro    4.585
Salvador        3.289
Curitiba        2.776
Brasília        1.734
Fortaleza        1.701
Porto Alegre        1.203
Belo Horizonte    1.164

Álcool e desemprego
O álcool associado ao uso de drogas aparece como a principal causa que levam as pessoas a viveram nas ruías das grandes cidades. Segundo os dados do MDS, o álcool é responsável por 35,5% das causas, seguido do desemprego, com 29,8%,  problemas familiares, com 29,1%, perda de moradia, com 20,4% e desavenças amorosas, responsável por 15,1% das causas.
O tempo de permanência é de em média dois anos, mas 30% dos entrevistados  nas 71 cidades com mais de 300 mil habitantes, disseram que estavam vivendo nas ruas há mais de cinco anos. Dos entrevistados,. 48,4% preferiam dormir nas ruas a procurar um abrigo público.Por outro lado, 24,8% não possuíam qualquer  tipo de documento de identificação.
Homens, negros, adultos e alfabetizados são maioria 
Entre a população pesquisa em 71 cidades com m ais de 300 mil habitantes, a grande maioria era do sexo masculino (82%), com idade entre 25 e 44 anos (53%) , e que nunca estudaram ou não concluíram o ensino fundamental (63,5%). Em relação à cor, 39,1%  eram pardos, 27,9% negros, 29,5% brancos, 1,3% indígenas, 1% amarelo oriental e 1,2% de cor não identificada.
A Pesquisa Nacional sobre a População em situação de rua, feita pelo MDS, estimou que em todo o Brasil a população em situação de rua chegue hoje aos 50 mil e que revelou que essa população é predominantemente constituída  por  negros (I67%).
Já os níveis de escolaridade apontaram que a  maioria (52,6%) tinha renda mensal entre R$20,00 e R$80,00 semanais e que 74% dos entrevistados sabiam ler e escrever , contra um percentual de apenas 17,1% não sabia ler e escrever e só 8,3% sabiam assinar o próprio nome.
Ao contrário do que aparentam, a grande maioria da população em situação de rua trabalha ou exercem algum tipo de atividade remunerada. 
Segundo a pesquisa do MDS, do contingente de pessoas que vivem e dorme nas ruas das grandes cidades, a grande maioria (70,9%) é composta por  trabalhadores ou exerce alguma atividade remunerada. 
Ainda segundo a pesquisa, apenas 15,7%  dessa população de rua pede dinheiro como principal meio para a sobrevivência.  Parte considerável da população em situação de rua é originária do município onde se encontra, ou locais próximos, não sendo decorrência de deslocamento ou migração campo/cidade.  
E do total de entrevistado, a pesquisa revelou que  51,9% dos entrevistados possuem algum parente residente na cidade onde se encontram, mas, 38,9% deles não mantêm contato com esses parentes.

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