quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Plano de governo da Rede não será o mesmo de Marina em 2014, dizem líderes

Marina Silva, a líder da Rede, partido aprovado há pouco mais de um mês
Marina Silva, a líder da Rede, partido aprovado há pouco mais de um mês

Além de propostas que Marina e seu partido devem apresentar para as eleições de 2018, parlamentares falam das posições da legenda no ajuste fiscal e a respeito do impeachment de Dilma


Poucos dias depois de completar um mês de existência, a Rede Sustentabilidade de Marina Silva ainda não é um ator político bem definido. Seus líderes no Congresso admitem que o partido não deliberou sobre questões importantes como se defenderá ou não o Impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Também não tem um caminho claro quanto aos projetos que neste final de ano serão prioridade na agenda do governo no Congresso. A única coisa clara neste um mês de vida é que o plano de governo do partido não será o mesmo que Marina apresentou quando candidata em 2014.
Alvo de muitas críticas em função de algumas correções e revisões de última hora, o plano apresentado por Marina em 2014 defendia entre outras coisas, a independência do Banco Central. Na página 46 do Plano de Governo da então candidata lia-se algo que os líderes da Rede no Congresso Nacional parecem rejeitar. “Assegurar a independência do Banco Central o mais rapidamente possível, de forma institucional, para que ele possa praticar a política monetária necessária ao controle da inflação”.
Randolfe, senador da Rede: “Fazemos questão de nos mantermos equidistantes do que chamamos de oposição de direita. Do PSDB e do DEM
Randolfe, senador da Rede: “Fazemos questão de nos mantermos equidistantes do que chamamos de oposição de direita. Do PSDB e do DEM"

“Aquelas propostas não eram de Marina. Aquelas propostas foram as que Marina herdou da candidatura de Eduardo Campos à presidência da República. Não eram as propostas da Rede. Ali seria inclusive uma indelicadeza com a tragédia que aconteceu na campanha se Marina alterasse aquele programa de governo. O programa que queremos para o Brasil ainda está em construção”, diz o líder da Rede no Senado, Randolfe Rodrigues (AP), egresso do PSOL.
“Não posso falar pela Rede, mas posso dizer o que acho que não é da Rede. Por exemplo, independência do Banco Central. Acho que independência do Banco Central não cabe numa economia como a nossa. Não cabe e não se justifica”, critica Randolfe. Segundo o senador, sua ideia é propor a composição de um grupo de trabalho na reunião da Executiva Nacional, marcada para novembro, para que o futuro programa de governo da Rede comece a ser desenhado.
“Nem começamos a fazer esse debate. A Rede existe há um mês, portanto, não houve programa de governo da Rede. Esse próximo será o primeiro. Não há que se tomar o programa de governo anterior como um parâmetro”, afirma Alessandro Molon (RJ), líder da Rede na Câmara dos Deputados, que dá um palpite sobre a independência do Banco Central. “Esse ponto específico acho que será muito debatido. Acho que será muito mais provável que se debata algo em torno de autonomia do Banco Central do que de independência”, diz Molon, egresso do PT.
Agenda de governo
Nas palavras de seus líderes, a Rede será uma oposição sem, entretanto, qualquer alinhamento com PSDB e DEM. “Fazemos questão de nos mantermos equidistantes do que chamamos de oposição de direita. Do PSDB e do DEM. Tanto que eles propõem abertamente o Impeachment e nós não”, afirma Randolfe, que sintetiza a posição do partido como “oposição progressista”.
“A posição da Rede é uma posição de independência crítica. Tanto é que ela se sente a vontade para apoiar o que é colocado no parlamento e que ajuda o Brasil e livre para votar contra aquilo que for proposto e não atender aos interesses do povo brasileiro. Não é uma posição tomada contra tudo que venha do governo e nem a favor de tudo que venha do governo. Isso vale para iniciativas do governo e da oposição também”, declara Molon.
"Não há que se tomar o programa de governo anterior como um parâmetro”, diz Molon (RJ), líder da Rede na Câmara

Diante desse cartão de visitas, o líder da Rede no Senado diz que não apoiará a recriação da CPMF, uma pauta prioritária para o governo. “Somos contra a CPMF. Não temos nenhum compromisso em votar a CPMF e não votaremos CPMF. Somos contra essa proposta de ajuste fiscal apresentada pelo governo federal”, critica o Randolfe. “Esse modelo econômico ortodoxo que a presidente disse que os adversários, inclusive a Marina, iriam fazer, é o que o governo está fazendo. Somos oposição a isso”, acrescenta ele.
Impeachment
Se a questão do Impeachment virou clichê nos discursos do senador Aécio Neves (PSDB-MG), sua aliada no segundo turno da eleição presidencial de 2014, Marina ainda lida com o assunto esbanjando cautela. Seus líderes arriscam palpites, sem posicionar a legenda. “Tem um fato novo aí que é o relatório do Tribunal de Contas da União e vamos analisá-lo. Em princípio, não vejo que tem fato objetivo”, declara Randolfe. “Este fato concreto, em relação à presidente da República, ainda não vimos, não encontramos. Embora nossa posição seja de oposição ao governo federal, não vimos ainda elementos para o Impeachment”, diz o senador.
Randolfe rejeita a tese de golpismo para os que defendem o Impeachment, argumento na ponta da língua da presidente, e usa argumento semelhante ao dos tucanos para tratar a discussão. “O impeachment está na Constituição. Faz parte da regra do jogo democrático. Não é essa a questão. A questão é ter elementos para tanto. O próprio PT, durante o governo do Fernando Henrique, argumentou e pediu o Impeachment do Fernando Henrique”, diz.
Molon diz que o partido deverá discutir o tema e publicar uma nota oficial sobre o assunto nas próximas semanas. Nas entrelinhas, ao falar sobre o assunto, ele alfineta a posição de PSDB e DEM. “Vamos tomar o cuidado de evitar que qualquer rescaldo da eleição passada sirva para orientar a posição da Rede sobre isso. Vamos tomar uma posição sobre isso não pensando em 2014, mas pensando no Brasil de hoje e dos próximos anos. Não vai ser uma oportunidade de dar troco em quem quer que seja ou de preparar o que quer que seja para as próximas eleições”, avalia.
Novos quadros
A Rede aguarda o julgamento de uma ação no Supremo Tribunal Federal, cuja relatoria está nas mãos do ministro Luís Barroso, para saber se a janela de transferências ainda está aberta para o partido. A Rede pede a inconstitucionalidade de norma que acaba com o prazo de 30 dias para que parlamentares possam deixar seus partidos para se filiarem a partidos recém-criados sem a perda dos mandatos.
Enquanto aguarda ao menos a concessão de uma liminar que permita a parlamentares entrarem na Rede, seus líderes trabalham nos bastidores para atrair novos quadros. “Tem alguns nomes, mas peço desculpas por não revelá-los para não expor outros parlamentares que na verdade até alguns vieram falar conosco porque sentem que a Rede é uma alternativa”, diz o líder na Câmara.
Muito menos contido, Randolfe fala com desprendimento sobre suas articulações e flertes sobre colegas de Senado. “Ficaria muito feliz, me sentiria realizado, se tivéssemos uma bancada aqui no Senado integrada por Paulo Paim (PT-RS), Walter Pinheiro (PT-BA), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Reguffe (PDT-DF). Esses quatro, ou parte deles, faria a melhor bancada de todos os tempos dentre os partidos aqui no Senado. Não sei qual o desejo deles, mas vamos insistir o quanto pudermos em relação a eles”, afirma Randolfe.

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