Carlos Eduardo, personagem de Marcelo Serrado em Velho Chico, a novela das nove da Globo, passou cinco meses com sua vilania enrustida, à sombra do coronel Saruê (Antonio Fagundes), de quem sempre sonhou em tomar o poder. Mas se no início da trama o deputado parecia apenas disposto a ocupar o lugar do sogro, na reta final ficou claro que ele deseja mais, em especial a disputa pela mocinha Maria Tereza (Camila Pitanga).
As mudanças no perfil de Carlos Eduardo demoraram para acontecer, tanto quanto a narrativa modorrenta de Velho Chico. Aos poucos, as nuances de personalidade do vilão foram ficando claras, ao passo que o figurino foi escurecendo. A mudança, é verdade, serviu para movimentar a novela. Foi um chacoalhão necessário à história e, de quebra, humanizou o personagem de Fagundes, bastante criticado, em partes, por sua ambiguidade que confundia o público.
Sem mais nem menos (na verdade, uma imposição da cúpula da Globo), toda a vilania da história foi jogada nas costas de Carlos Eduardo. Luzia (Lucy Alves), a mulher atormentada de Santo (Domingos Montagner), parece ter se redimido de suas pequenas maldades. Afrânio tem flertado com a loucura, agora que tem o rabo preso com o novo Saruê, e até Cícero (Marcos Palmeira) já se convenceu de que seu amor por Tereza não será possível.
O embate inicial da novela, a rivalidade entre a família Sá Ribeiro e os Dos Anjos, servia também como grande impeditivo para que o romance entre Tereza e Santo acontecesse. Com a recente aceitação do casal por parte de Afrânio, cresceu a disputa pela mocinha entre Carlos Eduardo e Santo, deixando o primeiro, mais uma vez, com o antagonismo todo para si.
Se destrincharmos a fundo a narrativa social de Velho Chico, é possível, ainda, identificar na história outro vilão. A novela retrata nas entrelinhas um sistema corrompido e que por consequência atrapalha o andamento da sociedade fictícia de Grotas de São Francisco. O próprio Carlos Eduardo, o deputado federal que pouco expediente dava em Brasília, é a personificação desse sistema.
O coronelismo enraizado, o arcaico e os pequenos poderes, como o ex-delegado e hoje secretário de segurança Queiroz (Batoré) e o prefeito Raimundo (Saulo Laranjeira), dois paus mandados de Carlos Eduardo, complementam a crítica política que Benedito Ruy Barbosa tenta fazer com sua novela.
Muito significativa, a cena do enfrentamento verbal entre Bento (Irandhir Santos) e Afrânio, exibida no final de agosto, retrata bem essa vilania do sistema. Ao final dela, Afrânio cai do coreto. A queda física representa também a queda moral do coronel. A partir dela, Carlos Eduardo toma as rédeas do poder do microcosmo nordestino criado em Velho Chico e a história chega ao ponto em que se encontra hoje.
Fortemente calcada numa crítica social, Velho Chico tem a qualidade de trazer para a televisão uma reflexão política necessária. O preço disso é uma história folhetinesca lenta e sem grandes acontecimentos, que beira uma ramerrame enjoativo. A transformação de Carlos Eduardo no grande vilão da novela trouxe a ela movimentação e, no fim das contas, não foi má ideia.
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