sexta-feira, 30 de setembro de 2016
Êxito eleitoral em São Paulo e Minas fortaleceria Alckmin e Aécio, com risco de racha tucano em 2018
SÃO PAULO (Reuters) - O resultado do PSDB nas eleições em São Paulo e Minas Gerais vai reforçar os nomes do governador paulista, Geraldo Alckmin, e do senador mineiro Aécio Neves na disputa pela indicação tucana à eleição presidencial de 2018, com riscos de o embate gerar um racha no partido.
As duas lideranças têm aliados favoritos para vencer as prefeituras de São Paulo e de Belo Horizonte, o que já seria suficiente para credenciá-las a pretendentes à candidatura presidencial. O desempenho do partido em cidades mineiras e paulistas com mais de 200 mil eleitores também ajuda.
Embora as prováveis vitórias em São Paulo e Belo Horizonte sejam motivo de comemoração para o partido, a presença de dois postulantes fortes para 2018 pode se provar um problema para o PSDB.
"O que eu acho possível é que, qualquer que seja a definição (do candidato tucano em 2018), dessa vez haja um racha dentro do PSDB. Como 2018 é uma eleição que está muito aberta, quem for preterido na escolha pode se animar a tentar sair candidato por outro partido", avalia o analista político Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores Associados.
Candidato derrotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, Alckmin foi o que se movimentou mais ostensivamente nesta eleição. O apoio dele ao empresário João Doria na disputa interna que definiu o candidato tucano em São Paulo provocou críticas de lideranças históricas da legenda.
A aposta de Alckmin, no entanto, parece ter sido correta, já que Doria passou pela prévia, lidera as pesquisas e as simulações de segundo turno sinalizam que ele vencerá a eleição.
"Essa eleição para nós, para Geraldo, é uma prévia para 2018", afirma, sem rodeios, o presidente do diretório paulista do PSDB, o deputado estadual Pedro Tobias.
BRIGA PAULISTANA, RECONSTRUÇÃO MINEIRA
Doria tornou-se candidato do PSDB ao comando da capital após uma prévia contestada na Justiça e que deixou feridas. Adversário de Doria na disputa, o vereador Andrea Matarazzo, deixou o partido, filiou-se ao PSD e hoje é candidato a vice de Marta Suplicy (PMDB). Outras lideranças ficaram no PSDB, mas criticam abertamente o candidato tucano.
"A prévia é para isso. Um vai ganhar, o outro vai perder. Devia ter o compromisso, quem perdeu apoia quem ganhar. Eles não querem aceitar isso. Não está satisfeito? Perdeu? Em vez de criticar, sai. Ou apoia a maioria", disse Tobias.
"O PSDB foi fundado de cima para baixo e essa turma antiga acha que é dona do partido. Não é. Foi uma prévia democrática", garante o parlamentar, que vai mais longe e afirma que tucanos críticos a Doria, casos do ex-governador Alberto Goldman e do ex-deputado federal Arnaldo Madeira, "não representam ninguém" e "são do passado".
Se em São Paulo o clima é quente dentro do PSDB, em Minas o partido vive um período mais calmo ao passo em que busca reconstruir seu protagonismo no Estado, que governou de 2003 a 2014.
A última eleição não traz boas recordações ao PSDB mineiro. Candidato a presidente à época, Aécio foi derrotado em seu Estado natal nos dois turnos e seu candidato a governador, Pimenta da Veiga, perdeu ainda no primeiro turno para o petista Fernando Pimentel.
O cenário agora é mais alvissareiro. O tucano João Leite lidera as pesquisas em Belo Horizonte e vence também nas simulações de segundo turno. Além disso, o PSDB lidera, com candidato próprio ou coligado, em outras quatro cidades mineiras com mais de 200 mil eleitores.
"Eu acredito que vamos ter êxito na capital, em cidades grandes e também em cidades pequenas", disse o presidente do PSDB mineiro, deputado federal Domingos Sávio, para quem o desempenho tucano no Estado "ajuda muito" as pretensões presidenciais de Aécio.
Sávio, no entanto, ressalva que o senador mineiro terá de se desvencilhar do que chamou de "processo de denuncismo", referindo-se às acusações que têm envolvido o líder tucano na operação Lava Jato.
"À medida que o Aécio fizer isso, eu acho que ele é um forte candidato à Presidência da República, e ele tem a favor dele um PSDB unido, ao contrário do que sempre se apregoa", aposta.
Sávio reconhece em Alckmin um postulante tucano à Presidência da República e o coloca em patamar similar ao de Aécio na corrida pela indicação tucana.
"Hoje eu vejo primeiro o Aécio, porque tem o recall, tem uma memória de 51 milhões de votos mais recente. Mas o Geraldo tem o mesmo potencial, o mesmo valor, as mesmas condições", avaliou Sávio.
"Eu vejo os dois num ambiente de muita unidade, de muito respeito. Não vejo a menor possibilidade, como alguns apregoam, de um sair numa direção e o outro em outra", disse Sávio, que conta que as bancadas tucanas de São Paulo e Minas em Brasília têm feito "um trabalho muito rigoroso" para evitar "vaidades pessoais e interesses pessoais".
Tobias, do PSDB paulista, também reconhece a força de Aécio, a quem diz "adorar". Ele também vê a possibilidade de entendimento entre os dois líderes sem descartar, no entanto, uma prévia nacional do PSDB em 2018.
"Se não tem acordo, há prévia, como fizemos na capital de São Paulo", disse ele. "O que não se pode fazer é o que fez Matarazzo aqui. Quem perde a eleição, tem que aceitar a derrota e apoiar. É isso", disse o deputado estadual, que, ao mesmo tempo, deixou clara a posição do diretório que comanda.
"Nós paulistas, o nosso candidato é Geraldo Alckmin."
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