O Mercosul se ressente da falta de definição. Esta é a avaliação da economista Lia Valls, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), às vésperas da 50° Reunião de Cúpula do bloco, que acontecerá em Mendoza, Argentina.
Para Lia, o que mais tem caracterizado a atuação do bloco, originalmente formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai é a falta de objetivos e definições.
Lia Valls observou:
"O Mercosul é um projeto que começou desde 1991. Passou por várias turbulências e não conseguiu se constituir no que era o seu projeto inicial, que era o de criar um mercado comum [no âmbito dos países da América do Sul]. Seria um projeto igual ao da União Europeia", avalia a professora da FGV. A pesquisadora acrescenta que a próxima Reunião de Cúpula deverá ter como foco a integração regional e a superação do atual período de "certa estagnação".
O encontro já está sendo marcado por questionamentos em relação à Venezuela. Em abril deste ano, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai decidiram de comum acordo aplicar a Cláusula Democrática contra o país por considerar que o regime do presidente Nicolás Maduro vem desprezando aspectos relacionados aos direitos humanos e também porque, na avaliação destes quatro países, "a separação dos Poderes tornou-se indistinguível na Venezuela". Com a aplicação da Cláusula Democrática, a Venezuela está tecnicamente suspensa do Mercosul porém, formalmente, ainda permanece no bloco.
"O Mercosul sempre padeceu de um problema que é o da falta de definição sobre o que os seus países membros pretendem do bloco. Existe essa questão da Venezuela, que é essencialmente política. Há a Cláusula Democrática, que já foi invocada pelos membros do bloco contra a Venezuela, têm as pressões da OEA (Organização dos Estados Americanos) e o Mercosul, nestas questões políticas, sempre foi pela não interferência em assuntos internos de seus membros. Penso que chegou a hora de o Mercosul definir uma posição mais clara em relação à Venezuela, principalmente porque estão envolvidas questões de direitos humanos", analisa Lia.
Ao final da reunião de Mendoza, Michel Temer receberá do seu colega da Argentina, Mauricio Macri, a presidência pró-tempore do Mercosul. Com o Brasil na liderança do bloco, as prioridades de Michel Temer, segundo seu porta-voz Alexandre Parola, serão dar ênfase à conclusão do acordo sobre compras governamentais, promover a continuidade da eliminação de barreiras ao comércio entre os países sócios; defender a harmonização de normas técnicas e proceder "ao monitoramento atento da situação na Venezuela".
O porta-voz presidencial ainda destacou que Temer buscará aproximar o Mercosul de outros blocos como a União Europeia, Efta (sigla em inglês da Associação Europeia de Livre Comércio, formada por Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein) e Aliança do Pacífico (bloco formado por México, Peru, Chile e Colômbia)
A aproximação entre União Europeia e Mercosul começou em 1999, mas a expectativa é de que um acordo seja finalizado apenas em 2018.
O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, participou nesta quinta-feira (20) da reunião de Ministros do Mercosul e afirmou que "a conclusão do acordo depende da apresentação tempestiva do bloco europeu da sua oferta de acesso a mercados, sobretudo dos produtos chamados supersensíveis e de interesse central exportador para o Mercosul."
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