quarta-feira, 26 de julho de 2017

Neonazistas brasileiros 'sonham em morrer em combate' na Ucrânia

Neonazistas na Ucrânia (foto de arquivo)

A polícia do Rio Grande do Sul investiga as ações de jovens neonazistas que estariam sendo recrutados pela organização extremista internacional Misanthropic Division.

Em dezembro passado, a polícia realizou oito buscas em todo o estado em endereços ligados a grupos radicais.
Agentes da polícia confiscaram munições, materiais de propaganda e livros sobre nazismo, além de deterem um jovem de 26 anos. Naquele momento, o objetivo da operação era a possível ligação de brasileiros com membros da organização neonazista internacional Misanthropic Division (proibida na Rússia), que opera em mais de 15 países e tem provocado distúrbios no território ucraniano.
O comissário Paulo César Jardim, encarregado das investigações sobre ações de neonazistas no Rio Grande do Sul, para pediu informações sobre a investigação e suposto recrutamento de jovens brasileiros para participar de atividades paramilitares e extremistas na Ucrânia.
De acordo com o comissário-chefe, havia suspeitas de que estavam fabricando uma bomba. "Detectamos um laboratório, mas ali não teria condição para fazer aquilo", disse Jardim .O agente insistiu que as investigações estão sendo realizadas secretamente e apenas concordou em informar que todos os interrogados deste então estão em liberdade, mas foram processados por violar a lei que proíbe "produzir, vender e difundir propaganda nazista", entre outros crimes.
A polícia do Rio Grande do Sul tem investigado há 15 anos ações locais de neonazistas que "sentem prazer em odiar", segundo o encarregado. "As primeiras detenções ocorreram em 2002 e houve um aumento em 2005, quando foi comemorado o 60º aniversário do fim do Holocausto e fizeram um ataque, onde massacraram um jovem", afirmou.
O delegado disse ter encontrado naquela época uma legião de tatuados com suásticas e frases como "I hate your face" (Eu odeio sua cara). O comissário começou a estudar a filosofia deles e entendeu que "estão aborrecidos pelo movimento brasileiro se limitar a exibir tatuagens e se opor à polícia e à cadeia, em casos mais extremos".
"Por que a Ucrânia?", essa era uma pergunta que o intrigava. "Delegado, nós somos jovens guerrilheiros urbanos e nós temos uma causa: nosso orgulho é tombar em combate", acrescentando que sonham com isso "porque nesta sociedade retrógrada e capitalista, financiada pelos judeus", como afirmaram os neonazistas para o delegado, não encontraram espaço para cumprir seu sonho romântico de morrer lutando", contou o comissário.
O responsável pelas investigações ressaltou que tais aspirações heroicas são expostas em materiais, propagados entre eles, como se fosse um manual verdadeiro de conduta e uma "bíblia neonazista", em que defendem ódio a judeus e a homossexuais, exaltando "a pureza de sua raça".
"Como pode ser prazeroso para alguém odiar, causar dor, causar um mal, sangrar as pessoas? E eles entendem isso como uma naturalidade surpreendente, eles me respondem assim: 'delegado, quando na sua casa o senhor vê uma barata no chão, o senhor pisa em cima e mata, não? […] E barata é uma subespécie, uma sub-raça, então a gente não tem que ter pena do judeu, do negro ou do homossexual'", citou alguns dos pensamentos dos interrogados.
Para Jardim, a existência de simpatizantes de ideologias nazistas e fascistas na região do Sul do país se deve à imigração alemã nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando o então presidente Getúlio Vargas possuía alguns pontos em comum com o líder alemão, Adolf Hitler, até que finalmente se mostrou contra.
"Os aliados obrigaram o Brasil, ou seja, Getúlio Vargas, a decretar que o partido nazista que havia no Brasil deveria ser expulso, e ele passou à clandestinidade", diz o delegado, mas lamenta pelos nazistas terem continuado suas atividades. "O Brasil tem cidades que se originaram a partir de colônias alemãs, italianas e polonesas, instaladas naquele período e onde até hoje falam alemão e possuem evidências de alguma herança cultural do nazismo", explicou.
Segundo o delegado, há certo modismo de querer ser fundamentalista e cita exemplos de negros e homossexuais que seguem uma cultura nazista no país.

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