Tropas brasileiras iniciam saída do país caribenho, após 13 anos liderando a Minustah, única operação da ONU comandada sempre por um único país. Polícia Nacional Haitiana é um dos principais legados, aponta general.
O Brasil encerra nesta sexta-feira (1º/09) sua presença no Haiti após 13 anos liderando militarmente a Missão das Nações Unidas para a Manutenção no Haiti (Minustah), iniciada em 2004, após um golpe que provocou a renúncia do então presidente Jean-Bertrand Aristide.
Na noite de quinta-feira, uma cerimônia na capital Porto Príncipe marcou o início oficial da desmobilização do batalhão brasileiro. O evento contou com a presença do ministro da Defesa, Raul Jungmann, que viajou ao Haiti na companhia de uma comitiva formada por militares e civis.
Jungman afirmou que o Brasil recebeu convite para participar de outras dez missões de paz da ONU e que "a melhor avaliação" seria para a República Centro-Africana, onde há um grande número de refugiados.
"À meia-noite do dia 1º de setembro, encerraremos oficialmente as operações. Isso quer dizer que, a partir de 2 de setembro, nenhum soldado brasileiro sairá às ruas armado para realizar patrulha ou qualquer operação", disse o comandante da missão, general Ajax Porto Pinheiro, em entrevista à rádio Verde Oliva, do Exército brasileiro.
O cronograma de desmobilização prevê que 85% dos 981 militares brasileiros no país sejam trazidos de volta ao Brasil até 15 de setembro. Os outros 152 soldados e oficiais ficarão encarregados de proteger as instalações brasileiras e cuidar das últimas medidas administrativas necessárias para a repatriação de todo o material e equipamento brasileiro até 15 de outubro, quando também deixarão aquele que é considerado o país mais pobre das Américas e um dos mais carentes do mundo.
Brasil no comando de missão da ONU
A missão da ONU teve início com uma operação multinacional coordenada por EUA e Canadá, que ficou dois meses até que o Brasil fosse politicamente e militarmente convocado para chefiar a segurança, sob a égide das Nações Unidas. O embaixador brasileiro Paulo Cordeiro, que chefiou a presença brasileira no Haiti do o início da missão de paz até 2008, concordou que "é hora de o Haiti andar com as próprias pernas".
Para o general Pinheiro, um dos principais legados da ONU para o Haiti foi a formação da Polícia Nacional Haitiana (PNH). Pinheiro crê que a polícia esteja reestruturada e bem equipada, capaz de fazer frente em caso de grupos armados tentarem retomar território nas favelas.
"A ONU nem cogita a possibilidade de voltar, pois se tivermos de voltar, foi porque falhamos", admitiu Pinheiro em entrevista ao portal G1. "O ambiente seguro e estável que existe agora é o maior legado que deixamos. São 13 anos em que a paz trouxe empresas, emprego, renda e maior qualidade de vida. Sem isso, certos negócios não teriam sido abertos aqui", disse o general. Ele garantiu que nunca viu o Haiti tão calmo, afirmando que "as coisas voltaram a funcionar após a eleição do novo presidente", Jovenel Moise, em janeiro.
A Minustah foi a única operação da ONU comandada sempre por um único país, no caso, o Brasil. Entre 2005 e 2007, as tropas brasileiras realizaram operações para pacificar as três principais favelas de Porto Príncipe, Bel Air, Cité Militare e Cité Soleil, esta última considerada um reduto de "chiméres", grupos armados ligados ao ex-presidente Aristide. A Cité Soleil foi a última área entregue pelo Brasil ao Haiti e, desde o início de julho, a favela está sob a vigilância da PNH.
Desastres naturais atrasaram recuperação
A recuperação do país foi muito afetada pelo forte terremoto em 2010, que provocou entre 100 mil e 300 mil mortos – o dado mais alto é uma estimativa do governo local. Desde então, os países parceiros tentam retomar a economia haitiana. A passagem de furacões e fortes tempestades pelo Caribe nos últimos anos só atrapalharam a recuperação.
Em abril, a ONU decidiu encerrar a missão de paz, alegando que havia feito a sua parte e que as tropas deixarão oficialmente o país até 15 de outubro. A partir de então, uma nova missão será criada, agora com 1.275 policiais internacionais para apoiar, até 2021, a formação da PNH, que não é ainda respeitada pelo povo. Na missão da ONU também estavam integradas tropas de Argentina, Benim, Bolívia, Canadá, Espanha, França, Índia, Marrocos, entre outras.
Desde junho de 2004, o Brasil enviou ao Haiti 37,5 mil militares. O maior contingente é o do Exército, que mobilizou 30.359 homens e mulheres. A Marinha enviou 6.299 militares e a Aeronáutica, 350. Vinte e cinco militares brasileiros morreram durante o período, incluindo dois generais.
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